domingo, 23 de setembro de 2012

A FÍSICA MECÂNICA APLICADA NA PRÁTICA


A FÍSICA MECÂNICA APLICADA NA PRÁTICA

Situações constrangedoras são mais comuns do que se pensa. Na verdade fazem parte da nossa vida.

Pois bem, certa feita eis que fui convidado por um amigo para passar o final de semana em Caldas Novas, cidade turística do interior de Goiás, famosa por ser a maior estância hidrotermal do mundo.

Fomos no carro desse amigo que havia acabado de comprar.

Delon, sujeito de fino trato, rapaz educado de boa família, era conhecido no meio da nossa turma por seus dotes físicos avantajados. Jovem de trato urinário absurdamente gigantesco, para os padrões do homo sapiens, de raio “circunferêntico” (peço licença para o neologismo) igualmente assustador, era pacato e tímido.

Bem, lá fomos ávidos para colocar o possante zero quilômetro na estrada. Eis que começa o meu martírio.

Como é sabido, dirigir nos grandes centros urbanos é, na sua lógica, estressante coisa e tal, mas fazê-lo numa rodovia estadual de pista simples, é adrenalina pura, demanda de mais cuidados e práticas reiteradas.

Querendo me impressionar (pelo menos eu creditava nisso à época) ele imprimia toda a velocidade daquele carro popular de 1000cc, pneus finos, básico, e recém-tirado da concessionária, no afã de lhe conferir o “amaciamento” do motor.

Bem, existem pequenos trejeitos que nos revelam a ausência de capacidade técnica ou científica do ser humano. Qual, por sua vez, era gritante naquele momento, já que o mesmo desprezava qualquer das leis da física.

Em tempo, senti meu corpo sofrendo pequenas alterações, mas precisamente, e nesta mesma ordem: apêndice, cólon ascendente, parando no cólon transverso, além de pequenas câimbras na região do esfíncter.

Com todas as bênçãos de Deus, chegamos inteiros, sãos e salvos.

Imediatamente fomos para a casa de uma amiga que o convidara originariamente para aquele final de semana ensolarado e afins.

Diante daquelas sensações que haviam maculado meu sistema nervoso, percebi que algo tinha mudado, aquela munição de estrume que estava paradinha no cólon transverso já tinha passado para o descendente, estacionando no cólon sigmoide.

Foi quando notei que naquela casa de veraneio só haviam mulheres e, é claro, um banheiro.

Fiquei aterrorizado, constrangido, pensando nos efeitos que isso iria causar a minha imagem com aquelas jovens moças. Afinal de contas essa primeira impressão é, quase sempre, a mãe da “simpatia voluntária”.

Depois de algumas voltas pela casa, com o fito de me certificar de verdade se havia somente um banheiro, vi, através das grades do portão, que havia uma pequena porção de terra (lote baldio) limítrofe ao muro dos fundos da casa, que agasalhava entulhos de uma construção.

Pronto! Resolvido o problema! Vou contemplar a natureza!

Naquele momento eu nem me importei com demais desígnios que gosto de praticar quando daquele momento, que pra mim é litúrgico (já que meu sistema excretor, talvez pela doutrina em que foi criado, funciona melhor quando o meu sistema visual encontra alguma leitura, nem que seja caixa de sabão omo, vidro de champoo), coisa e tal.

Contudo, seguindo a ordem desafortunada de todo o passeio, fui analisar o local para ver o melhor canto para que pudesse praticar aquele natural e humano ato.

Aqui senhores, quando digo analisar o faço na acepção literal da palavra, um local, com sombra (de preferência), longe das formigas e, o mais importante, que pudesse me deixar INVISÍVEL.

Novamente, a maré de azar era tanta, que quando decidi fazer o teste, ainda de roupa, é claro, me posicionei atrás de um monte de entulho e me pus de cócoras, quando notei que o relevo do lugar não favorecia a minha gana (ficar invisível), deixando assim, notória toda a porção parietal, frontal e occipital da minha cabeça, de tal sorte que seria facilmente identificado, já que minha principal característica “fenótipa” é a minha alopecia androgênica (leia-se, calvo, careca o caralho).

O que se sabia era que teria de improvisar algo novo, outra alternativa, já que estava começando a entrar em “trabalho de parto”.

Voltei para o interior da casa e me pus próximo ao banheiro, com o fito único de verificar a frequência que aquela parte sanitária era utilizada.

Coisa foi piorando cada vez mais, já que as mulheres adentravam no mesmo com certo intervalo, não muito espaçado de temo.

Como fiquei incumbido de fazer apenas a análise temporal dos fatos, deixei de analisar as condições locais, motivo pelo qual não percebi que o banheiro ficava quase dentro da cozinha, o que poderia trazer ainda mais desconfortos e infortúnios aos demais já que estava quase na hora do almoço.

Desesperado, com intervalos de contrações parturientes de minuto a minuto, busquei no fundo da minha memória qualquer outra ideia que pudesse colocar em prática, eis que fui agraciado pela luz da memória fotográfica e inteligível, me lembrei da professora Helena, qual me havia lecionado as primeiras noções básicas de Fisica Mecanica na sétima série.

A coisa ficara simples, tudo que tinha de fazer era calcular a velocidade média que aquele santo lugar era usado.

Vm=ΔS/Δt, tava no papo.

Neste interregno todo, já estava com os nove meses de gestação completos, o que poderia atrapalhar o espaço de tempo que teria para me desfazer da criança que havia em mim, já que (calculei por aproximação, estimava uns dois quilogramas de emoção para serem expelidos) com essa pequena alteração de peso demandaria de um pouco mais de tempo, que eu não tinha.

Entrei neste habitáculo, e com os dois dedos polegares, tirei a calça, a cueca e a meia, e dei um empurrão com todas as minhas forças, como quem vai botar um ovo de avestruz, e larguei o canudo dentro do bocão, achei que teria um AVC na hora.

No mesmo micro segundo já havia me vestido e com pé dado a descarga. O desespero era tanto que deixei para fazer a assepsia do orifício terminal do aparelho digestivo em um banho discreto e providencial de uma ducha no corredor ao lado da casa, assim teria mais esmero com a limpeza, pois teria grandes chances de ficar pequenos incômodos nos pelos protetivos daquela parte intocável do meu corpo, tais com o caroço da goiaba, a “capa” do feijão e demais do gênero.

Pensem no que eu passei.

Graças ao Bom Senhor que não me deixou cabular aquela importante aula de física.


Luciano Maia

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