A
FÍSICA MECÂNICA APLICADA NA PRÁTICA
Situações constrangedoras são mais comuns do
que se pensa. Na verdade fazem parte da nossa vida.
Pois bem, certa feita eis que fui convidado
por um amigo para passar o final de semana em Caldas Novas, cidade turística do
interior de Goiás, famosa por ser a maior estância hidrotermal do mundo.
Fomos no carro desse amigo que havia acabado
de comprar.
Delon, sujeito de fino trato, rapaz educado de
boa família, era conhecido no meio da nossa turma por seus dotes físicos
avantajados. Jovem de trato urinário absurdamente gigantesco, para os padrões
do homo sapiens, de raio “circunferêntico” (peço licença para o neologismo)
igualmente assustador, era pacato e tímido.
Bem, lá fomos ávidos para colocar o possante
zero quilômetro na estrada. Eis que começa o meu martírio.
Como é sabido, dirigir nos grandes centros urbanos é,
na sua lógica, estressante coisa e tal, mas fazê-lo numa rodovia estadual de
pista simples, é adrenalina pura, demanda de mais cuidados e práticas reiteradas.
Querendo me impressionar (pelo menos eu
creditava nisso à época) ele imprimia toda a velocidade daquele carro popular
de 1000cc, pneus finos, básico, e recém-tirado da concessionária, no afã de lhe
conferir o “amaciamento” do motor.
Bem, existem pequenos trejeitos que nos
revelam a ausência de capacidade técnica ou científica do ser humano. Qual, por sua vez,
era gritante naquele momento, já que o mesmo desprezava qualquer das leis da
física.
Em tempo, senti meu corpo sofrendo pequenas
alterações, mas precisamente, e nesta mesma ordem: apêndice, cólon ascendente,
parando no cólon transverso, além de pequenas câimbras na região do esfíncter.
Com todas as bênçãos de Deus, chegamos
inteiros, sãos e salvos.
Imediatamente fomos para a casa de uma amiga
que o convidara originariamente para aquele final de semana ensolarado e afins.
Diante daquelas sensações que haviam maculado
meu sistema nervoso, percebi que algo tinha mudado, aquela munição de estrume
que estava paradinha no cólon transverso já tinha passado para o descendente,
estacionando no cólon sigmoide.
Foi quando notei que naquela casa de veraneio
só haviam mulheres e, é claro, um banheiro.
Fiquei aterrorizado, constrangido, pensando
nos efeitos que isso iria causar a minha imagem com aquelas jovens moças.
Afinal de contas essa primeira impressão é, quase sempre, a mãe da “simpatia
voluntária”.
Depois de algumas voltas pela casa, com o fito
de me certificar de verdade se havia somente um banheiro, vi, através das
grades do portão, que havia uma pequena porção de terra (lote baldio) limítrofe
ao muro dos fundos da casa, que agasalhava entulhos de uma construção.
Pronto! Resolvido o problema! Vou contemplar a
natureza!
Naquele momento eu nem me importei com demais
desígnios que gosto de praticar quando daquele momento, que pra mim é litúrgico
(já que meu sistema excretor, talvez pela doutrina em que foi criado, funciona
melhor quando o meu sistema visual encontra alguma leitura, nem que seja caixa
de sabão omo, vidro de champoo), coisa e tal.
Contudo, seguindo a ordem desafortunada de
todo o passeio, fui analisar o local para ver o melhor canto para que pudesse
praticar aquele natural e humano ato.
Aqui senhores, quando digo analisar o faço na
acepção literal da palavra, um local, com sombra (de preferência), longe das
formigas e, o mais importante, que pudesse me deixar INVISÍVEL.
Novamente, a maré de azar era tanta, que
quando decidi fazer o teste, ainda de roupa, é claro, me posicionei atrás de um
monte de entulho e me pus de cócoras, quando notei que o relevo do lugar não
favorecia a minha gana (ficar invisível), deixando assim, notória toda a porção
parietal, frontal e occipital da minha cabeça, de tal sorte que seria facilmente
identificado, já que minha principal característica “fenótipa” é a minha
alopecia androgênica (leia-se, calvo, careca o caralho).
O que se sabia era que teria de improvisar
algo novo, outra alternativa, já que estava começando a entrar em “trabalho de
parto”.
Voltei para o interior da casa e me pus
próximo ao banheiro, com o fito único de verificar a frequência que aquela
parte sanitária era utilizada.
Coisa foi
piorando cada vez mais, já que as mulheres adentravam no mesmo com certo
intervalo, não muito espaçado de temo.
Como fiquei incumbido de fazer apenas a
análise temporal dos fatos, deixei de analisar as condições locais, motivo pelo
qual não percebi que o banheiro ficava quase dentro da cozinha, o que poderia
trazer ainda mais desconfortos e infortúnios aos demais já que estava quase na
hora do almoço.
Desesperado, com intervalos de contrações parturientes
de minuto a minuto, busquei no fundo da minha memória qualquer outra ideia que
pudesse colocar em prática, eis que fui agraciado pela luz da memória
fotográfica e inteligível, me lembrei da professora Helena, qual me havia
lecionado as primeiras noções básicas de Fisica Mecanica na sétima série.
A coisa ficara simples, tudo que tinha de
fazer era calcular a velocidade média que aquele santo lugar era usado.
Vm=ΔS/Δt, tava no papo.
Neste interregno todo, já estava com os nove
meses de gestação completos, o que poderia atrapalhar o espaço de tempo que
teria para me desfazer da criança que havia em mim, já que (calculei por
aproximação, estimava uns dois quilogramas de emoção para serem expelidos) com
essa pequena alteração de peso demandaria de um pouco mais de tempo, que eu não
tinha.
Entrei neste habitáculo, e com os dois dedos
polegares, tirei a calça, a cueca e a meia, e dei um empurrão com todas as
minhas forças, como quem vai botar um ovo de avestruz, e larguei o canudo
dentro do bocão, achei que teria um AVC na hora.
No mesmo micro segundo já havia me vestido e
com pé dado a descarga. O desespero era tanto que deixei para fazer a assepsia
do orifício terminal do aparelho digestivo em um banho discreto e providencial
de uma ducha no corredor ao lado da casa, assim teria mais esmero com a
limpeza, pois teria grandes chances de ficar pequenos incômodos nos pelos
protetivos daquela parte intocável do meu corpo, tais com o caroço da goiaba, a
“capa” do feijão e demais do gênero.
Pensem no que eu passei.
Graças ao Bom Senhor que não me deixou cabular
aquela importante aula de física.
Luciano Maia
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