domingo, 17 de julho de 2016

19:05 ERA A HORA CERTA


Certa feita fomos convidados para o lançamento do disco de um grande amigo instrumentista na cidade de Brasília. 

Cidade esta distante 200km de Goiânia, conhecida pejorativamente pelas mazelas políticas, mas, que, porém, se revela pelo seu enorme potencial cultural e afins.


Pois bem, lá fomos lindos e fulgurantes para mais uma pândega regada à boa música e, não obstante, eivada de companhias agradabilíssimas.


Por não ser da cidade, nos dispuseram, além da invitação musical, pouso na residência do artista que estava lançando seu trabalho solo, naquela ocasião.


Tudo transcorrera na mais perfeita ordem. 

Boa música, cerveja gelada e pessoas agradáveis.

Como de praxe, naquele grupo, ao final do compromisso cultural, nos dirigimos para a residência do virtuoso músico juntamente com sua consorte, para fazermos a NOSSA RESENHA.


Lá, tocamos as músicas que não estavam no set list da apresentação, bebemos e comemos à vontade.


Durante o nosso deleite, chegaram alguns convidados, amigos do casal em comento, quais, pela ausência de formalidade, acreditamos ser do convívio íntimo dos gentis anfitriões.


Dentre os tantos, me foi apresentado um jovem de estatura mediana e alto nível empírico nas mais variadas vertentes, que se mostrou mavioso, simpático e atencioso.


Onde me deixara à vontade, também liberto de formalidades.


Lá pelos idos e avançados da hora, já um tanto temulento, ficamos conversando sobre os mais diversos assuntos.


Eis que algo começou a macular minha psiquê.


Como é cediço, sou conhecido entre meus convivas pelo meu raciocínio lógico e jeito cético de ser. 



A tal ponto que se me disser que “a tia Maria for ao quintal com o jornal embaixo do braço, prontamente afirmo: ELA VAI CAGAR, ELA NÃO SABE LER” !


Comecei a olhar a figura em comento, mas não conseguia identificar para onde o mesmo estava olhando, devido a uma pequena manifestação estrábica e "fenótipa" que apresentara.


Antes de identificar tal anomalia física, meu “sistema já estava muito nervoso". 



Discretamente levantava o pano da mesa pra saber se estava com o meu "KEDS" desamarrado, noutro momento achava que tinha babado na gola da camisa (ou se estava de pingente). 



Foi uma agonia!


Foi quando eu recobrei o raciocínio, à aquela altura prejudicado pelo elevado teor etílico da hora, e tive a feliz ideia de me levantar e dar quatro passos para trás e assim olhar de frente para o simpático rapaz.


Pronto! Tudo ficou claro!


Aquele relógio marcava 19:05!


Um olho no peixe e o outro no gato!


A agonia era quase a mesma de quem usa peruca - você jamais olha nos olhos da pessoa, e sim no “telhado”! 



Pensem no aperto!


Mais tarde, já relaxado e adaptado com aquela situação, ouvi da boca da consorte que me ciceroneava que o mesmo já tivera desavenças com seu padrasto, num passado distante, a tal ponto do mesmo desferir um tiro de arma de fogo contra este desafeto.


Confesso que fiquei chocado!


Ainda mais depois de conhecer seu nível cultural e instrução, era algo que não coadunava com o que havia sido apresentado.


Prontamente fiz aquela indagação óbvia.

- Não acredito que ele fez esta bobagem com a vida dele. Ele matou o cara?


A relatora do fato de pronto respondeu:

- Não! Ele errou o tiro!


Num átimo quase que instantâneo, e com um certo alívio bradei:

- Ah bom, mas também com aquela pontaria, não acertaria nunca!