sexta-feira, 2 de novembro de 2012

INVESTIMENTO CULTURAL


INVESTIMENTO CULTURAL

Quem nunca perdeu a noção de tempo e espaço quando envolvido com algo que literalmente de entorpece?

Pois bem, penso que essa é uma fraqueza típica do ser humano.

Deixar tudo pra última hora, pagar pra ver, cometer as mais clássicas falácias “Eu sei o meu limite”, enfim.

Certa feita, fui convidado para uma roda de choro em Brasília com o fito de comemorar o aniversário de um grande amigo, também músico, mas juiz federal de ofício.

E para tal pândega resolvi convidar a minha versão feminina (leia-se, adicta inveterada em boa música e demais desígnios do gênero) para me acompanhar.

Lá fomos nós, belos e fulgurantes. Aqui é importante consignar que tal companhia é, por sua vez, a minha outra metade, minha melhor amiga, confidente e protetora.

Andréia Marinho, de alcunha Beaju, advogada, hoje mãe e esposa dedicada, conhecida no meio musical pelo bom gosto e pela voz imponente, aveludada e de uma afinação absurda, foi quem me deu a honra de me acompanhar naquele evento que seria o mais importante daquele ano.

Chegamos em Brasília, nos hospedamos na casa de um outro amigo em comum e, imediatamente fomos “escalar aquela serra”.

Tudo perfeito!

Contudo, como éramos jovens e, como todo bom jovem que se preze, estávamos desprovidos de pecúnia até mesmo para a nossa própria mantença. Mesmo assim decidimos encarar aquela guerra.

Foram três dias maravilhosos de festa, com tudo que tínhamos direito, desde ver e tocar com artistas de renome nacional até sermos ovacionados por aqueles convivas.

Bem, dado certo tempo, um olhou pra cara do outro e disse: “Gastei quase tudo que tinha, só restou a grana da passagem de ônibus”.

Eu, imediatamente retruquei: “Não esquenta, ainda tenho uma reservinha aqui”!

Foi quando tudo começou.

Eu sempre fui meio sugestionado com algumas coisas, não aguento pressão, melhor ainda, não aguento “DOIS VAMOS?, é pressão demais pra minha cabeça.

Eis que fomos convidados a ficar para a resenha do quarto dia.

Instantaneamente dissemos em um coro uníssono OPA! DEMOROU, MEU NOME É PRONTO!

E lá ficamos.

No dia de irmos embora foi quando nos demos conta de que havíamos torrado até o último centavo. Foi um choque!

Beaju, sempre precavida, disse que tinha um cartão de crédito, que passaria a despesa das passagens no mesmo de depois “suicidaria” para pagar.

Compramos as passagens e ficamos aguardando a saída do ônibus pra Goiania.

Como foram quatro dias de festa, sem comer direito, bebendo tudo que era líquido, nada mais normal macular a minha fisiologia.

Pois bem, comecei a entrar em trabalho de parto e fiquei desesperado quando entrei no banheiro da rodoviária e deparei com o zelador do mesmo.

Putz! Fudeu! Será que paga pra cagar?

Nem me toquei que aquilo ali era uma caixinha, imbuído de “toda honestidade e inocência” do mundo saí desesperado procurando algum canto que pudesse parir aquela criança.

Depois de vagar por aquela estação, notei, quase ao final dela, um banheirinho bem surrado que ficava num canto próximo ao almoxarifado daquele lugar.

Não pensei  duas vezes, caí dentro!

Haviam três reservados mas somente um tinha porta, foi nesse que eu entrei.

Saquei o rolo de papel higiênico e forrei a tampa do bocão e pulei em cima.

Para minha desventura a porta fechava mas não tinha trinco. Beleza!

Sentei meio  lado e com a outra perna, na ponta dos pés segurei a porta. Foi uma batalha, vez que determinado movimento que fazia para fechar a porta, sem perceber, com o peso da perna eu também fechava o “registro”, e em meio a esse sofrimento todo , conseguia liberar alguma coisa.

Antes de tudo isso, havia combinado com a Beajú, que se nossa viatura estivesse partindo era  pra ela me telefonar.

Foi dito e feito! O telefone tocou, o desespero falou mais alto, e naquela ginástica toda eu resolvi botar tudo pra fora de  uma única vez. Pensem no tamanho da força que eu fiz, foi quase a mesma de um parto natural, achei que teria um aneurisma.

Dada a situação já descrita anteriormente, aquilo tudo quando saiu fez um barulho ensurdecedor, parecido com uma freada de caminhão.

Brasília, como se sabe, é uma cidade cosmopolita, terra prometida, 90% de sua população é de nordestinos. Assim ao ouvirem aquele som nefasto, a galera que estava de dentro começou a gritar “EITA DIABO! ESSE FICOU TODO ARROMBADO!”...

Foi foda.

Como eu havia me preocupado com a assepsia do bocão, nem tinha me dado conta que o papel acabara, foi quando resolvi usar a minha meia.

Passei pelo que passei em nome da música e quando vinham me dizer que eu não devia ter gasto tanto assim eu imediatamente dizia: “Ah!Estou fazendo investimento cultural!”

Luciano Maia